Novas modalidades de crédito verde surgiram estimuladas pelo Acordo de Paris e pela urgência em atender ao prazo para transição para uma economia de baixo carbono, previsto nos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Entre as linhas de crédito verde disponíveis, se destacam aquelas voltadas para a agropecuária, que oferecem recursos com taxas de juros mais acessíveis para quem se compromete a produzir de forma mais sustentável. Esse mercado ainda engatinha no Brasil, mas há uma forte tendência de crescimento.
Para que a agropecuária possa avançar na adoção de práticas de menor impacto ambiental, é preciso ampliar o conhecimento e o acesso a esse tipo de crédito.
Neste artigo, você vai saber como o produtor pode se beneficiar do financiamento verde para adotar uma produção mais sustentável.
O especialista em finanças sustentáveis da AR2 Business Innovation, Ronei Santos, explica que a primeira coisa a fazer é procurar um especialista no tema ou uma instituição sem fins lucrativos que possa dar o suporte inicial e auxiliar na estruturação de um projeto.
Segundo ele, não adianta ter o recurso disponibilizado se o pequeno ou grande produtor não estiver preparado para desenvolver todo o seu processo produtivo de maneira sustentável.
“Recursos disponíveis nós temos. Se o produtor tiver uma boa ideia e vontade de fazer acontecer, há muitas possibilidades. Mas, antes do dinheiro, é preciso um bom projeto. Mas, se ele não estiver estruturado, não vai conseguir ter os parâmetros para captar esse crédito verde”, afirma Santos.
É preciso lembrar que a captação de recursos tem uma visão de médio e longo prazo. O projeto precisa ser pensado em termos sustentáveis para toda a cadeia, inclusive em relação à tecnologia que será aplicada, e quais as métricas financeiras previstas (metas).
Esse planejamento vai ajudar o produtor a consolidar sua ideia e demonstrar, por meio de parâmetros e métricas, que ele é capaz de entregar valor para os três pilares da sustentabilidade: o social, o econômico e o ambiental.
“É preciso comprovar que seu projeto tem uma causa, um propósito de sustentabilidade. Se ele demonstrar que tem uma métrica de retorno sustentável ao longo do tempo, vai conseguir linhas de crédito com taxas muito em conta para o seu financiamento”, diz o especialista.
O projeto pode propor o uso do solo de forma mais sustentável, com ações simples, como rotação de pasto e monitoramento do capim para garantir que o solo está sempre sequestrando carbono com uma diversificação maior de cultura, fazendo Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), ou até outros sistemas que combinem diferentes culturas.
Também é possível apresentar formas de plantio que gerem o mesmo tipo de rentabilidade, mas com impacto ambiental mais baixo em relação ao uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, para evitar a contaminação dos solos e da água.
O mercado de financiamento verde é formado por bancos, gestoras, consultorias, entidades públicas e outros atores do setor. A maior parte dos recursos vem de governos e bancos de fomento públicos e privados, especialmente de países que têm metas de carbono a reduzir até 2030.
Nesses países, instituições financeiras já estipularam seus objetivos de investimentos focados em desenvolvimento sustentável de várias frentes, incluindo a área produtiva. São recursos estabelecidos por meio do pacto firmado com a ONU – inclusive financiados pelo Banco Mundial.
No Brasil, além dos bancos privados e públicos – como Banco do Brasil, Banco Central e BNDES – a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e a Bolsa de Valores já tem métricas e recursos destinados para isso.
Governos estaduais também já desenvolvem seus próprios programas de incentivo à produção mais sustentável, oferecendo assessoria técnica e recursos para os produtores que atendem aos critérios estabelecidos, além de firmar parceria com instituições internacionais para captação de recursos.
Recentemente, o Governo Federal identificou recentemente 13 iniciativas aptas a buscarem financiamento do Fundo Verde do Clima (Green Climate Fund – GCF), das Nações Unidas, que financia programas dos setores público e privado para atingir objetivos e metas de desenvolvimento sustentável. São investimentos entre US$ 10 milhões até mais de US$ 250 milhões e entre as áreas de atuação estão agricultura, florestas e uso da terra.
Esse tipo de investimento também tem chamado a atenção de investidores privados que possuem capital para investir a médio e longo prazo. São pessoas que têm interesse em financiar a produção responsável e que querem fomentar práticas sustentáveis no planeta.
Para eles, o financiamento verde é extremamente atrativo, porque oferece um retorno mais perene. “Quando se pensa em resultado a longo prazo em termos de impacto, é preciso que o investidor avalie o risco. Por isso, é interessante para o investidor aplicar seu capital em um projeto sustentável, que entrega valor e tem retorno garantido com pouco risco ou com risco mais baixo a longo prazo”, explica Santos.
Existem ainda as soluções financeiras inovadoras ofertadas por instituições sem fins lucrativos. Uma delas é o Instituto Conexões Sustentáveis – Conexsus, que trabalha exclusivamente na área agropecuária, focada em financiamento para o desenvolvimento do produtor rural.
Um dos desafios para o financiamento verde avançar no Brasil é ampliar a conscientização socioambiental, para que o produtor tenha conhecimento da importância de preservar o meio ambiente para a sustentabilidade de seu negócio.
O Brasil possui milhões de pequenos pecuaristas que têm menos acesso à informação e ao crédito. É preciso que eles também estejam abertos à inovação, a usufruir de novas tecnologias ou de tecnologias não utilizadas.
“Esse desconhecimento é natural porque ainda estamos em um período transitório, migrando do formato agropecuário anterior para uma proposta de produção mais sustentável”, comenta o especialista.
O auxílio de especialistas é fundamental para demonstrar ao produtor que a sustentabilidade é algo viável e que há oportunidades e linhas de crédito para investir. “Ele vai ter taxas mais em conta e vai contribuir para uma sociedade mais sustentável a longo prazo. Isso vai impactar em melhor qualidade da água, do alimento, na terra e no ar”.
O produtor que busca o financiamento sustentável deve entender que o modo de investir agora é diferente. Ele precisa pensar não apenas no retorno financeiro, mas em qual impacto vai causar nos pilares da sustentabilidade com o seu investimento.
“A captação do recurso é a conclusão de uma série de ações que ele já implementou. Com a mudança na mentalidade, ele muda o foco do projeto da fazenda e vai para um nível de consciência mais amplo e o seu projeto se torna mais duradouro”, enfatiza Santos.
Para o especialista, quando o produtor que tem um ativo com impacto carbono muito elevado, com alto custo de taxas de juros, entende que pode captar recursos a custos menores, com menor impacto na sustentabilidade, sua mentalidade muda. Ele está, naturalmente, mudando a cadeia de valor do ativo da sua fazenda.
“Por outro lado, ao continuar com uma produção de alto carbono, ou que não reduza, daqui a pouco não terá mais como produzir. O grande desafio do planeta agora é equilibrar a matriz de consumo”, conclui Santos.
Fonte: Pasto Extraordinário