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De olho na preservação do bioma, pecuarista pantaneira aposta na produção de bezerros

Depois das graves queimadas registradas em 2020, a seca que já dura meses e o início de incêndios na região colocam os pantaneiros em estado de alerta mais uma vez. Entre eles, porém, há quem se sinta mais preparado para prevenir e lidar com a situação, como a pecuarista e presidente do Sindicato Rural de Cáceres (MT), Ida Beatriz Machado de Miranda Sá.

“Neste ano estamos muito mais preparados. Temos um comitê de prevenção e combate aos incêndios no município, tivemos muitas capacitações com brigadistas, temos mapeados os equipamentos em cada uma das propriedades, sabemos o número de pessoas capacitadas e onde há água”, enumera Ida.

A organização da comunidade se deu a partir da dificuldade enfrentada para controlar as queimadas em 2020, quando cerca de 23 mil km² do bioma foram consumidos pelas chamas. Quando elas começaram, Ida tinha assumido a presidência do sindicato há poucos meses e atuou para articular ações da instituição em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema/MT), o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea/MT), o Corpo de Bombeiros e a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).

“Fizemos uma estratégia conjunta. Conseguimos identificar quais eram as rotas para as propriedades e os contatos dos proprietários. Criamos uma linha de WhatsApp e pedimos a uma pessoa do Corpo de Bombeiros, a Tenente Lovato, que nos mandasse informações três vezes ao dia sobre a situação do incêndio. Então, nós sabíamos onde estava o fogo, para onde poderia migrar, como estava o vento. Com isso, conseguimos ter um aviso e fazer algumas manobras”, conta a pecuarista.

A continuidade do trabalho, com foco em preparar a comunidade para futuros períodos de queimadas, seguiu de forma natural. Além dela, Ida explica que os produtores da região também puderam eliminar parte do material combustível presente em suas fazendas por meio de queima controlada, prática que agora está suspensa na região para evitar o alastramento do fogo.

“Nós temos duas formas de mitigar os impactos das queimadas: a limpeza de pastagem com a queima controlada e o melhor uso da pastagem disponível em nossas fazendas. Nós não conseguiremos enfrentar o fogo se não tivermos uma política pública efetiva de queima controlada, com controle da Secretaria de Meio Ambiente, que também deverá fazer todo um trabalho de conscientização e educação”, afirma Ida.

A preocupação com os incêndios na região é apenas uma das que Ida tem em relação à sustentabilidade da sua e de toda a produção do Pantanal. “Eu sou a quarta geração de pecuaristas pantaneiros e a questão do cuidado com biomas é da minha raiz: meus avós eram assim, meus pais também, então, não seria diferente conosco. Nós sempre tivemos um cuidado com a fauna e a flora, com as águas e a época da seca”, conta Ida.

Responsável pela fazenda que era de seus pais desde 2016, a presidente do Sindicato Rural de Cáceres trabalha hoje com a produção sustentável de bezerros, visando atender às demandas imediatas do mercado internacional, impulsionadas principalmente pela Europa e os Estados Unidos, mas também àquela que deve surgir no Brasil.

Tudo começou com um projeto para garantir o acesso do gado à água mesmo durante os períodos de seca, feito em 2017 – e que também fez Ida e o marido reconhecerem que a vocação de sua fazenda era a criação de bezerros. Ao buscarem quem tinha a tecnologia para a execução do projeto, encontraram o projeto Fazenda Pantaneira Sustentável, da Embrapa Pantanal, e resolveram incorporá-lo à unidade produtiva, usando tecnologias, conhecimento e mão de obra da região.

“Os nossos parceiros, colaboradores, engenheiros, enfim, são todos da nossa região, do município de Cáceres. Investimos mesmo na prata da casa e é muito bacana, porque você faz um intercâmbio: o escritório que nos ajuda já deu uma capacitação na Embrapa e nós já tínhamos uma troca com o pessoal de outros setores. Isso cria uma interface do setor produtivo, com a academia e as associações de classe, e contribui muito para a pecuária, para a produção agrícola, para a indústria e para o comércio”, diz Ida, que já tem um histórico na área acadêmica e no setor de inovação.

Segundo ela, o foco na pecuária sustentável é importante porque é a forma que o produtor tem de conciliar sua atividade com a preservação do ambiente que vai permitir que ela aconteça – aliás, uma demanda crescente. “A conservação do meio ambiente e a produtividade estão muito unidas. Sabemos que conseguimos ter uma ótima performance – e muita – com o tipo de pasto que temos aqui, com o manejo e a gestão adequados. E o produto sustentável é uma demanda do segmento. Há uma exigência para que, até 2035, a produção no último terço da pecuária, que é o confinamento, seja carbono zero”, afirma.

É por isso que Ida não apenas investe na produção sustentável de bezerros em sua fazenda, como também aproveita sua posição no sindicato para promover esse tipo de produção na região. A instituição está, por exemplo, apoiando um programa que vai ajudar 100 produtores rurais da região a transformarem suas propriedades produtoras de bezerros de baixa tecnologia em unidades sustentáveis de alta performance.

Lançado em agosto e realizado em parceria com IDH (Iniciativa de Comércio Sustentável), Grupo Carrefour, Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso) e Nutron/Cargill, o programa vai oferecer assistência técnica para regularização fundiária e ambiental, intensificação da produção, restauração de áreas naturais e apoio para acessar investimentos e mercados.

Fonte: Pasto Extraordinário